08 dezembro 2009

Herói ou bandido?


Já percebeu que todo mundo, quando morre de forma trágica, vira herói? Não estou dizendo que talvez não mereçam ser tratados assim, mas às vezes isso acaba parecendo meio exagerado. Acabei de assistir Jean Charles, aquele filme brasileiro que conta um pouco da vida do mineiro assassinado no metrô de Londres, confundido com um terrorista, em 2005. E foi essa a impressão que tive: de que o cara virou herói. Mas o que de tão impressionante ele fez pra ganhar o posto de Super-Homem da vez?
O filme já começa com Jean mostrando quão Gerson ele era. Malandrão, mentiu pra imigração dizendo que a prima estaria visitando ele e a mulher doente, que acabava de ter um filho. Até aí, tudo bem... Se ele realmente tivesse mulher e filho. Ao sair do aeroporto, chamou a polícia inglesa de otária. Ao longo do filme, ele passa a perna no cara que arrumou trabalho pra ele lá e ainda tinha esquema pra esquentar passaporte de brasileiros ilegais em Londres. Que herói, hein! Bom, pros padrões brasileiros e com a corrupção que rola solta por aqui, Jean Charles tá dentro dos padrões mesmo! Merece o título e até estrela na calçada da fama...
Não estou defendendo a polícia inglesa por ter atirado num "inocente" a esmo. Mas vamos ser honestos: estavam todos errados, Jean e polícia! Ninguém morre por acaso. Pelo menos é isso o que eu acho.
Jean Charles é só um caso no meio de tantos outros. Produto da mídia, do julgar sem saber o que há por trás. Basta ligar a TV pra ver a quantidade de "heróis" que morrem todos os dias. Hoje mesmo tinha um e nem precisei assistir mais do que 5 minutos de noticiário! O discurso é sempre o mesmo, o cara era trabalhador, bom filho, ótimo pai e excelente amigo... qualidades que hoje transformam qualquer um em super-herói.
Parece que hoje em dia, permanecer do lado certo é tão raro que, quem passa a vida sem fazer cagada, recebe homenagens de chefe de Estado, vira filme e best seller quando passa dessa pra uma melhor. É uma pena que tanta gente precise mesmo morrer pra ser reconhecido como santo ou herói. Porque vivo não chegaria a tanto. Muitos deles vão mesmo é pro inferno e, de lá, morrem de rir da cara de quem os idolatra. Assim como Jean Charles zombou da cara da polícia inglesa... E, sinceramente, não é bem este o esteriótipo de super-herói que tenho na minha cabeça. Mulher Maravilha, Super Homem e aliados devem morrer de vergonha do título que lutaram muito pra receber.

Um comentário:

Marco Grando disse...

Vi esse filme somente ontem e estávamos discutindo mesmo sobre este aspecto..uns diziam que o cara era bom e apenas ambicioso..já eu concordo plenamente na tua análise.. o cara foi vitima de uma sequencia infeliz de erros, mas cá entre nós, o rapaz não tinha nada de ética e era um verdadeiro marginal (usava passaporte ilegal e fazia muitas coisas irregulares) e ,como se não bastasse,se gabava por conseguir burlar o rigor da lei e do politicamente correto().