25 abril 2014

As desculpas que damos

Hoje recebi um email de alguém que achou o blog por acaso (adoro como as pessoas vem parar aqui!!!) e que me contou um pouco da história dela. É lógico que me vi ali, só que do lado de fora (eita sensação estranha!), lendo algumas coisas que já aconteceram na minha vida inúmeras vezes. E, em todas elas, achei que era o destaque do Livro dos Recordes na categoria "Idiota do Ano". Pra minha alegria, ao ler o email, percebi que não estou sozinha. A verdade é que nunca estamos.

Não vem ao caso contar aqui a experiência dela. Mas pensa na sua vida aí. Busque mentalmente as merdas que você fez ou as coisas que se sujeitou por alguém ou algo que queria muito, e que por conta disso, deixou de lado e enterrado num buraco bem fundo, todos os seus conceitos do que é certo ou errado ou valores em prol de algo que você acreditava que era. Só que não foi! A vida resolveu assim, que não era pra ser. Você não machucou ninguém no caminho, não enganou e nem mentiu... a não ser a você mesmo.

Mesmo sabendo que é "errado", a gente tenta, porque quer. E isso é motivo suficiente. Não é teimosia, é querer. O problema é que os olhos só conseguem enxergar aquilo que nossa cabeça tá pronta pra compreender. Nada além. Você já deve ter ouvido aquele conselho supimpa que diz pra não esquecer a cabeça quando se apaixonar por algo ou alguém, né? Ótimo... É lindo na teoria, bordaria uma toalha com essa máxima, mas na prática a gente sabe que não é bem assim, o coração incha e o cérebro atrofia. E é aí que surgem as desculpas que damos, porque parece que nessas horas a cabeça só serve pra isso.

Todas as desculpas que criamos são um passo pra perto da catástrofe. Ninguém é capaz de segurar a gente no lugar onde não queremos estar, ou seja, se ficamos é porque queremos e temos absoluta certeza de que pertencemos ali. E fazemos isso em todas as áreas da nossa vida.

Acreditamos em "eu te amo" porque soam bem e, quem diz, sabe que gostaríamos de ouvir, mas dizem só pra conseguir algo em troca. Desculpamos traições e mentiras porque acreditamos que este ato nobre vai colocar uma luz no coração de quem nos machucou, quando na verdade a única coisa que estamos dando é a chance de fazerem aquilo de novo. Acreditamos que só porque estamos na TPM podemos comer impunes e livres de calorias extra uma barra de chocolate e um pote de sorvete. Acreditamos que só porque o sapato estava em liquidação, ele tem que passar da vitrine pro nosso armário. "Ah, mas eu tinha todas as cores, só faltava o rosa", "Poxa, mas foram só uns goles a mais depois de um dia tenso de trabalho" e, sem nos darmos contas, estamos protegendo aquilo que nos faz mal, porque acreditamos que ali está nossa última passagem pra felicidade. A gente desculpa e cria desculpas acreditando que vai mudar, que vai nos fazer bem...

Só que não!

O que nos faz (ou deveria fazer) feliz é leve, não solicita desculpas ou explicações detalhadas, é descomplicado e praticamente de graça. Não faz sofrer, não machuca e nem nos faz mentir, principalmente pra nós mesmos.

24 abril 2014

Emprego dos sonhos?

Por que acabei de me demitir da Apple
Há cerca de um mês, depois de anos de design em várias indústrias, produzindo websites para clientes rápidos, trabalhando em startups fracassadas e discutivelmente bem sucedidas, e me distraindo com projetos paralelos aleatórios, eu fui convidado para uma entrevista na Apple. Eu não podia acreditar. Tinha acabado de refazer meu portifólio, e agora era bom o suficiente para ser considerado candidato na Apple. Ao meu ver, a Apple é, sem dúvidas, a melhor empresa em que um designer pode trabalhar.
Eles definiram uma data para a entrevista, e eu comecei a me preparar para um monte de perguntas e problemas difíceis que eu teria que resolver em frente ao time de design. Também imaginei que uma grande companhia como a Apple teria várias rodadas de entrevistas antes de tomar a decisão final. Fiquei surpreso quando tive que fazer uma entrevista básica com três pessoas apenas, por menos de uma hora. Dirigi de volta para São Francisco de Cupertino, e repeti a entrevista na minha cabeça. Parecia que eu tinha ido bem, mas não queria me afobar. Eu não queria ficar desapontado caso eles me rejeitassem.
Acabou que fui bem. Recebi um telefonema no mesmo dia, e me disseram que eu estava dentro. Eles me ofereceram um contrato como designer mobile. Uau! Estava tão empolgado que gritei quando desliguei o telefone. Meus pais e minha família estavam super animados quando contei. Eu publiquei a notícia no Facebook, e nunca recebi tantas curtidas e parabéns antes. Recebi mais curtidas quando anunciei que tinha conseguido um trabalho na Apple do que quando minha filha nasceu. Pessoas com quem eu tinha feito amizade anos atrás e que nunca tinham falado comigo me mandaram mensagens. Eu mudei meu título no Twitter, e de repente pessoas que não me seguiriam uma semana antes começaram a me seguir. As pessoas estavam tão empolgadas por mim que resolvi sair para beber e comemorar. Me senti bem com as pessoas comemorando comigo essa conquista.
Eu não conseguia dormir nas noites anteriores ao meu primeiro dia na Apple. Estava nervoso e empolgado. Era como se recebendo uma oferta da Apple, meu talento como designer tivesse sido reconhecido. Pensei na longa e estranha jornada que me levou até a Apple. Pensava "O que isso significa para minha carreira? Em que vou trabalhar? Onde isso vai me levar? Será que eu vou terminar algum dia o app de iPhone em que estou trabalhando?" Eu tinha tantas perguntas.
Então eu comecei. Imediatamente fiquei nervoso com as horas rígidas e o longo trajeto até o trabalho, mas finalmente eu seria uma daquelas pessoas importantes da tecnologia, indo e voltando de São Francisco em um ônibus privado com Wi-Fi. Eu dificilmente (quase nunca) via minha filha durante a semana, porque as horas eram muito inflexíveis. Também sofri um corte salarial significativo, mas pensei que eu estava fazendo um investimento de longo prazo ao trabalhar em uma empresa tão prestigiosa. A entrada era super bagunçada, e eles tinham tantas senhas, contas e logins que levou quase um mês para eu acessar o servidor. Havia reuniões toda hora que prejudicavam a produtividade de todos, mas parecia ser um mal necessário numa companhia tão grande e com produtos de tamanha qualidade. Tudo era um pouco chato, mas nada que fosse um grande problema no longo prazo, pensei.
Então meu chefe imediato (conhecido na Apple como produtor), que tinha o hábito de fazer insultos pessoais disfarçados de piada para qualquer um abaixo dele, começou a fazer insultos diretos e indiretos para mim. Ele me lembrava de como meu contrato não seria renovado caso eu fizesse ou não fizesse certas coisas. Ele ficava nas minhas costas (literalmente) e me pressionava para terminar tarefas simples de design que ele sentia que precisavam ser examinadas urgentemente. Ele era democrático com seus comentários grosseiros, mas não me fazia sentir melhor quando ele os direcionava aos membros da minha equipe. Eu me sentia mais como um adolescente trabalhando num emprego ruim do que um profissional em uma das maiores empresas do mundo.
Tentei pensar com calma e olhar o lado bom das coisas. Eu estava trabalhando na Apple com designers e produtos de nível mundial. Meus colegas tinham olhar refinado para o design, melhor do que qualquer um que havia encontrado antes. Eu amava a atenção para os detalhes que a Apple coloca em seu processo de design. Cada pixel, tela, característica e interação eram consideradas e depois reconsideradas. A comida no café era ótima, e eu gostava do meu novo iPad Air. Mas as piadas, insultos e negatividade do meu chefe começaram a me distrair do trabalho. Meus colegas que se mantinham firmes e definiam limites pareciam entrar em uma lista negra e ficavam fora do círculo de pessoas que puxavam o saco do produtor. Eu comecei a me sentir uma daquelas pessoas que esperam desesperadamente pela sexta-feira, e eu odiava as noites de domingo. Poucos de meus amigos e familiares queriam ouvir que trabalhar na Apple não era tão legal. Eles adoravam dizer, "Faça pelo seu currículo" ou "Você tem que ser o maior" ou "Você só começou. Você ainda não pode sair."
Esta manhã eu levantei um pouco mais tarde que o normal, e perdi o único ônibus da Apple que parava na minha casa. Acabei dirigindo para o trabalho num trânsito lento. Eu estava feliz por não ter que dirigir todo dia. Mas ainda pensava que preferia levar minha filha para sua pré-escola, como eu fazia antes de começar na Apple. Eu cheguei no trabalho e imediatamente fui para outra reunião. Fui bem, e então voltei para minha mesa. Sem nem dar oi, meu chefe veio com outro insulto estranho disfarçado de piada. Eu tentei ignorar e voltar para o trabalho, mas percebi que não conseguia. Eu estava pensando demais em como eu deveria lidar com a situação. Eu conseguiria chegar até o fim do meu contrato? Eu poderia ser deslocado para outra equipe? Como eu conseguiria um trabalho novo se estivesse sempre preso a Cupertino? Talvez eu devesse socar meu chefe no nariz? Não faça isso, Jordan.
Então, no almoço, eu esvaziei meu iPad, coloquei os arquivos em que estava trabalhando no servidor, deixei minhas coisas na mesa, peguei meu carro e dirigi para casa. Deixei uma mensagem para meu chefe dizendo que ele é o pior chefe que eu encontrei em minha carreira, e que eu não poderia mais trabalhar para ele, por melhor que a Apple parecesse em meu currículo. A empresa terceira que me contratou estava furiosa porque eu prejudiquei sua relação com a Apple, e claro que eles sentiam que eu não havia agido profissionalmente. Eu não estou orgulhoso por ter saído andando, e eu me sinto terrível por ter destruído a longa relação que eu tinha com o recrutador que me ajudou com a entrevista. Isso tudo é difícil de engolir porque eu estava tão empolgado em trabalhar para a Apple. Não tenho certeza se isso vai me assombrar ou não, mas tudo que sei é que eu queria muito trabalhar para a Apple, e agora nem tanto.
Jordan Price

22 abril 2014

Toma um elogio pra você

Tem duas coisas nessa vida que me fazem querer enfiar a cabeça num buraco e desaparecer: a primeira é quando cantam "Parabéns pra você" no meu aniversário, a segunda é quando me fazem um elogio. Eu não sei o que fazer em nenhuma das duas situações. Não sei onde colocar as mãos, o que fazer com o afago ao ego, onde enfiar a cara - se é realmente num buraco - ou como devo responder. Simplesmente não sei receber elogios!

Você ganha o respeito e a admiração de alguém, mas não sabe o que fazer com isso, se sente incomodado com os aplausos e a paparicação, mas também não quer deixar quem te proferiu tanta gentileza numa saia justa daquelas bem desconfortáveis. A verdade é que ninguém quer gerar esse efeito quando elogia alguém, mas sabe como é... Numa hora dessas não dá pra fugir do "Ah, que isso... são seus olhos!" e aquela cara de tacho famosa e envergonhada.

Imagina a cena: você tá usando aquela roupa nova, que custou o olho da cara, durante uma reunião de família e, um dos seus parentes, resolve dizer que você tá linda. Ao invés de encher o peito e se sentir a tal, você não apenas não tem a menor ideia do que fazer com a bajulação, mas aproveita a oportunidade pra se jogar na lata do lixo, junto com o elogio. "Com essa coisa aqui? Ih, faz tempo que tenho, comprei numa liquidação... Decidi colocar na pressa e nem gosto tanto assim. Mas que bom que gostou". Quem nunca fez isso, que atire a primeira pedra na própria cabeça! Depois dessa explicação desnecessária, o parente tão atencioso e simpático se arrepende de ter abrido a boca porque acha que, ao invés de elogiar, te ofendeu. Resultado: as duas partes tomam o elogio como um insulto, fim do parentesco, um beijo e até o Natal.

O trauma de receber elogios vem, muitas vezes, da infância. Quando surgem os primeiros elogios, a criança tem duas opções: ou usar o que ouviu como um estímulo pra ser sempre melhor e imbatível ou entender aquilo como uma pressão, pra ter que ser sempre melhor e imbatível. Quando vai ver, não sabe mais o que fazer com o elogio, se dobra e põe no bolso ou se manda pendurar na porta de casa.

Fomos ensinados, a vida inteira, sobre as virtudes da modéstia. Daí vem alguém, fala dos seus lindos olhos, de como você joga bem um certo esporte ou como seu novo corte de cabelo te rejuveneceu uns 20 anos e você, sem saber o que fazer com aquela informação preciosa, acaba se passando por grossa. Enquanto os mais narcisistas não apenas a-m-a-m os elogios, mas esperam por eles, nós - candidatas a Miss Qualquer Coisa - somos reduzidas a gelatina quando chamamos a atenção pelos nossos atributos, habilidades ou comportamento, como se aquilo jamais pudesse ter sido notado.

E nessa briga entre a modéstia e a educação, de que lado a gente tem que ficar, no final das contas? Bom, quando um elogio é sincero, feito de coração, sem nenhuma dose de sarcasmo ou ironoa, o melhor a fazer é agradecer com um bom "muito obrigado". O que você disser depois disso, vai depender da intimidade que tem com a pessoa ou com o seu nível de timidez. Não discorde do elogio, aceite e faça aquela cara de aprovação, não se faça de surda só pra ouvir o elogio novamente, não peça explicações, apenas dê uma resposta curta e simpática. Se nada disso te fizer se sentir confortável, apele pro humor e manda o clássica "Ah, são seus olhos".

Todo elogio é um julgamento e é OK não saber como receber. Afinal, ninguém gosta de ser avaliado, mesmo que a nota em questão, no final, seja super positiva.

18 abril 2014

No controle, os manipuladores

O cuidador emocional é chamado assim, pois é o vigilante dos sentimentos, das necessidades e desejos de um manipulador emocional. É ele que cede aos desejos do manipulador, abrindo mão dos seus próprios desejos e até mesmo das suas necessidades de bem estar. Eles cedem apenas “pra manter a paz” e agradar a outra pessoa – sem que isso resulte em qualquer melhora no relacionamento.
 
Esses cuidadores são carinhosos, preocupados, generosos e pessoas de extrema confiança. Eles querem agradar os outros de coração e são, em sua grande maioria, ótimas pessoas. Porém, podem ser facilmente manipulados pelos outros, porque tendem a ser passivos e bastante complacentes, além de sentir um alto grau de culpa e obrigação, ou até mesmo medo da raiva que os outros podem sentir. Um cuidador emocional prefere ser ele a se sentir magoado, bravo ou deprimido a fazer com que a pessoa com quem ele se importa passe por qualquer um desses sentimentos. Isso faz deles pessoas extremamente vulneráveis e acabam ficando nas mãos daqueles que gostam de tirar vantagens, além de serem destratados no relacionamento com pessoas que são extremamente egoístas e obstinadas.

Muitos desses cuidadores nem se dão conta do quanto abrem mão das coisas deles em prol dos outros. Quando percebem, eles podem se tornar ressentidos e bravos – mas as chances de continuarem agindo da mesma forma são grandes. Tais clientes sempre me perguntam, “Por que escolhi estar num relacionamento com alguém que é tão egoísta?”. A verdade é que a personalidade dessas pessoas funciona como um imã que atrai os manipuladores emocionais. No começo, o relacionamento parece maravilhoso – uma pessoa que adora dar e outra que gosta de receber. Infelizmente, muitas vezes quem recebe só quer receber mais, e da maneira deles. Enquanto que o cuidador, secretamente, espera que as coisas vão se equilibrar no decorrer do relacionamento, o que nunca acontece.

(Não acredito que esses cuidadores emocionais e os co-dependentes sejam a mesma coisa: a maior parte dos cuidadores é altamente prática, positiva e prestativa tanto no trabalho quanto com os amigos – enquanto que os co-dependentes são tipicamente passivos, não se acham válidos, acreditam não ter poder ou competência na maior parte de seus relacionamentos).

Quando os cuidadores estão num relacionamento com pessoas que respeitam, valorizam e recompensam positivamente seu carinho, eles conseguem fazer com que suas necessidades sejam satisfeitas e há um equilíbrio no dar e receber. E esses cuidadores têm, geralmente, relações muito positivas ao longo da vida. Mas num relacionamento mais íntimo com um manipulador os valores e crenças desses cuidadores não são valorizados no que diz respeito a dar e se preocupar – e o medo que eles têm da raiva, hostilidade e rejeição de seus manipuladores fazem com que se tornem reféns. Quando o cuidador discorda ou quer algo diferente da vontade do manipulador, eles nem sempre conseguem estabelecer os limites, colocar-se ou resolver as diferenças porque o nível do “combate” passa longe da habilidade e dos valores que eles têm. Ficam à mercê de um parceiro, cujo objetivo é ter o que querem, não importa como ou se irão magoar alguém.

Qual é o preço que se paga por ser um cuidador emocional num relacionamento com um manipulador? Perda de autoestima, aumento da ansiedade e depressão, um crescente sentimento de falta de esperança, exaustão, sensação de vazio e muita mágoa, medo e frustração. É muito comum que os cuidadores se sintam presos no relacionamento pelo senso de lealdade que tem e a relutância em magoar a outra pessoa, não importa o que essa outra pessoa tenha feito.

Ao invés de reagir com brigas, a maior parte desses cuidadores responde a esses perigos, a raiva e a hostilidade ficando quietos. A respiração fica mais fraca, eles congelam, e esperam o perigo passar. Esse tempo que passam quietos deixam seus pensamentos  confusos, os músculos ficam tensos e até o nível de digestão ou batimentos cardíacos diminuem. Essas reações podem causar problemas físicos como enxaquecas, indigestão, insônia, dor nas costas, nuca e ombros, e um total sentimento de impotência.
E como alguém consegue deixar de ser um cuidador emocional? A coisa mais importante a se fazer é se valorizar e tratar-se com o mesmo respeito que dá aos outros. Valorize suas próprias vontades, desejos e preferências. Imponha limites que não dão a chance dos outros invalidar você, ou deixa-lo pra baixo ou ignorar o que é importante pra você. Aprenda a brigar e escapar eficientemente quando estiver em perigo.


Preocupe-se com você mesmo antes de qualquer coisa e só depois ofereça seu carinho aos outros. Isso pode mudar sua vida...

17 abril 2014

De pai pra filha

Esta é uma carta escrita por um pai pra filha dele, sobre o futuro marido dela. Mas que toda mulher deveria ler...

Querida filhinha,

Recentemente, sua mãe e eu estávamos fazendo uma pesquisa no Google. Quando estávamos na metade da pergunta que íamos fazer, o Google nos deu uma lista com as pesquisas mais populares no mundo. No topo dela estava o seguinte: "Como mantê-lo interessado".

Aquilo me estremeceu. Acabei navegando por incontáveis páginas e artigos sobre como ser sexy, sensual, que diziam se a mulher deve oferecer cerveja ou sanduíches e as diversas coisas que ela pode fazer pra que ele se sinta inteligente e superior.

Fiquei muito bravo.

Minha pequena, não é, nunca foi e nem nunca será seu trabalho "mantê-lo interessado".

Filha, sua única função na vida é saber, bem dentro de você - naquele lugar inabalável, que não pode ser tocado pela rejeição, egos e perdas - que você vale a pena. Não apenas pra um cara qualquer, mas pra quem quer que seja. Se puder se lembrar de que todos são dignos de interesse, sua batalha na vida estará ganha. Mas isso seria assunto pra outra carta.

Se puder acreditar que você vale a pena, você será a pessoa mais atraente do mundo e irá atrair um cara que não será apenas interessado em você, mas que será capaz de passar a vida inteira dele investindo todo o interesse dele em você.

Querida, quero lhe falar sobre esse menino, que vai saber o quanto você é interessante:

Não me importa se ele tem bons modos ou se apoia os cotovelos na mesa. O que ele deve fazer é prestar atenção em como você fica bonita quando sorri, sem conseguir tirar os olhos de você. Para mim, não vai ser importante se ele não puder jogar aquela partida de golfe comigo, contanto que ele tenha tempo pra brincar com os filhos que um dia vocês dois terão e que serão parecidos com você, com os mesmos defeitos e qualidades.

Ele não precisa valorizar o que carrega na carteira, ele tem que valorizar o que tem no coração e isso sempre o levará de volta a você. Não estou preocupado se ele será forte, ele precisará te dar espaço pra que seja forte também e mostre a força que tem em seu coração.

Não ligo em quem ele votará, ele precisa eleger você, todas as manhãs, como a mais importante. A cor da pele não irá me dizer nada, assim como a sua religião. O que ele precisará é ter sido criado pra valorizar o que é sagrado e saber que todos os momentos da vida dele ao lado da sua serão extremamente sagrados também.

No final, minha filha, se você encontrar um homem assim e, ainda assim, eu e ele não tivermos nenhuma semelhança, teremos a coisa mais importante do mundo em comum: VOCÊ. Porque no final, querida, a única coisa que deveria ter pra "mantê-lo interessado" é ser o que você já é.

Seu eterno cara interessado,

Papai.

15 abril 2014

Quem é quem pra falar de alguém?

Ultimamente as pessoas andam especialistas numa arte bem inútil: a de julgar os outros. Gostam de comentar o comportamento alheio, mas são péssimas em conhecer a história por trás de cada um. Aliás, não demonstram interesse nenhum. Julgar, falar, palpitar, opinar é mais fácil, dá menos trabalho... Julgam porque têm medo de serem julgadas. Afinal, qual seria a graça da vida de gente assim se eles não fossem os donos da verdade ou os reis e rainhas da perfeição, não é mesmo?

A pergunta é: quem é quem pra falar de alguém se somos todos imperfeitos? Cada um é do jeito que é porque a vida nos "transformou" nisso, nessa neurose, numa loucura, numa pessoa bacana. Uns são talvez meio grossos, reservados, secos, frios ou preferem esconder aquilo que não quer que saibam por atrás de um jeitão engraçado, um corpo malhado ou um jeito descolado demais.

Dizem que pra gente entender as atitudes dos outros é preciso calçar os sapatos deles e andar uma boa parte da estrada com eles nos pés, pra só então poder palpitar alguma coisa. A verdade é que, quando se descobre o que há por trás de alguém, o sentimento passa a ser o de respeito, se não o de admiração.

Eu tenho minhas neuras. E não me envergonho delas. O que você acha do meu jeito, comportamento ou maneira de agir, não é problema meu. Por exemplo, não confio em ninguém, absolutamente em ninguém! Não é que confio um pouco ou confio desconfiando. Não... Passei a não acreditar nos outros depois de umas puxadas de tapete que levei há poucos anos. A primeira veio de um ex-namorado, que me enfiou no meio do relacionamento de 7 fracassados anos dele, por 3 longos anos da minha vida, mas "esqueceu" de me avisar que era comprometido. A outra rasteira veio da minha irmã, que resolveu dar em cima de outro cara com quem me relacionei. Traições me transformaram nesse ser desconfiado que sou hoje, que suspeita de tudo e de todos. Mais esperta, talvez? Mas, neurótica pros olhos de muitos. O julgamento deles não me interessa. Eles não têm o direito de dizer como devo ou não agir, sem ter vivido o que vivi.

Quem insiste em sentenciar os defeitos dos outros tem sempre algo a esconder. Devemos parar com essa mania de julgar, porque o errado e o certo já existem. Julgar alguém não define quem aquela pessoa é, mas quem você é. E com certeza já ouviu isso por aí. A forma mais elevada da capacidade humana é a de observar sem levantar julgamentos, sem arbitrar. O mundo anda habitado por gente demais que exige dos outros aquilo que são incapazes de praticar.

Antes de abrir a boca pra classificar o que o outro faz, lembre-se que o que você condena neles é o que você omite em você. Há uma história por trás de cada pessoa, e isso inclui você, e uma razão pela qual ela age de uma determinada maneira. E quem somos nós pra condenar o que fazem, se não gostamos nós mesmos de ser condenados.

14 abril 2014

Crianças sem histórias pra contar

Tenho a testa meio afundada, proeza que consegui depois de bater a cabeça contra a parede numa brincadeira com meu irmão. Também tenho uma leve cicatriz na bochecha, que ganhei quando caí no meio de uma roseira andando de bicicleta, na rua. Aliás, foi com a bicicleta que também ganhei outra marca no pé ainda na infância. Falando assim, pareço um Frankenstein, mas a verdade é que já nem tenho tanta cicatriz assim pra contar histórias. Algumas delas ficaram só na lembrança. Já passei dos 30 há um bom tempo e a pele, atualmente, dá sinais da vida que tem insistido em passar depressa e não da infância bem vivida.

Posso ter rugas, mas não sofro de tendinite ou tédio como as crianças de hoje em dia, que lá na frente vão lembrar das noites de inalação no hospital por causa do ar condicionado no quarto e não do gesso no braço quebrado assinado pelos amigos com canetinhas coloridos. A verdade é que elas sabem de tudo, menos como é bom ser criança.

Eu tinha hora pra dormir, mas nem era preciso ser lembrada pela minha mãe. Brincava tanto na rua que chegava esgotada no fim do dia. Pulei tanta amarelinha, brinquei tanto de pega-pega, me sujei muito nos parquinhos e toquei tanta campainha, que não sei como as crianças dessa geração conseguem passar o dia trancadas em casa, com um tablet na mão e um controle de videogame na outra.

Seria limitado demais achar que, com tanta evolução na humanidade, os pequenos continuariam os mesmos, iguais àqueles com quem cresci. Porém, ao invés de evoluir pro bem, a meu ver, a infância tem deixado de existir. Crianças já se portam como adultos: as meninas se maquiam, andam com roupas da moda, idolatram a Miley Cyrus, têm celular e até conta no Facebook. Os meninos tem agenda social, vão à festinhas e se desdobram pra dar conta das atividades extra-curriculares.

Ninguém mais passa a tarde estudando em casa, assistindo Chaves no fim do dia, antes do banho e do jantar. Depois da escola, enfiam os pequenos no judô, no karatê, no balé, na natação, no inglês e no curso de circo. Posso estar completamente enganada, mas ainda acho que criança deve continuar sendo criança. Devemos deixar que brinquem, que se sujem, que corram e que se machuquem bastante pra que cresçam com histórias pra contar.

Hoje, pensando, cheguei à conclusão: Me tornar adulta, talvez, tenha sido a coisa mais idiota que eu fiz na vida.

07 abril 2014

Welcome to the jungle

                                                                                   
"Larga ela porque você merece coisa bem melhor". Foi essa a frase que li hoje no Facebook do Fabian, marido da Clara Aguilar, que deixou o Big Brother Brasil há quase 1 semana e desde então, vem recebendo palpites de como seguir ou não seu relacionamento de quase 3 anos. Já tenho os dois  na minha lista de amigos bem antes do reality show, acompanhei a mudança dela pros Estados Unidos, o início do namoro dos dois, o nascimento do Max e a entrada dela na casa da Globo.

Durante o programa, vi várias moças semeando a discórdia, tentando convencer o francês boa pinta e com-pro-me-ti-do a largar a moça que estava disputando o prêmio de R$1,5 milhão sem ter a menor ideia do que acontecia desse lado de cá do muro. Ele passou do marido exemplar, que apoiava a mulher moderninha, a homem careta que merecia uma esposa certinha. Tudo sob o julgamento de garotas que não tinham nada melhor a fazer a não ser opinar e descer a lenha no grande amor da vida dele. Fragilizado, é claro que o cara perdeu as estribeiras, desceu do salto, rodou a baiana e, pra alegria das mal-amadas, anunciou o (provável) fim do casamento na rede social. 

Já dizem por aí que os relacionamentos de hoje em dia não são mais a dois e sim em equipe: 1 homem, 1 mulher, 1 ex tentando acabar com tudo, 1 amiga invejosa, 1 amigo torcendo em segredo pra tudo dar errado, 1 falso plantando a discórdia, 1 encalhada espalhando fofoca, 1 piriguete sassaricando em cima e um cachaceiro chamando pra farra. Aquela máxima de que em briga de marido e mulher ninguém mete a colher foi por água abaixo e, parece que os relacionamentos viraram batalhas inspiradas no The Hunger Games, onde só uma das "participantes" sai viva. O que vale é a disputa entre elas, o homem virou troféu.

Os namoros felizes se tornaram alvo das moças mal-intencionadas, que, criadas na selva correndo atrás de presas, gostam de caçar quem já é comprometido. Tem mulher que dá em cima pelo simples prazer de destruir relacionamentos, outras querem o que pertence a alguém só porque aquilo é o que queriam pra elas. E tem aquelas que esperam o primeiro vacilo pra colocar as asinhas de fora, sair da platéia e disparar conselhos que culminam no famoso "ela não presta, você merece coisa melhor". 

Como uma disputa de vídeo-game, tem sempre um(a) de fora torcendo pra alguém se foder só pra entrar no lugar. Mas o que leva uma fulana a julgar-se melhor do que alguém com o pretexto de ocupar o lugar que não é dela? Pretensão, falta de amor próprio e bom senso seriam algumas das respostas, pelo menos na minha opinião. E poderia listar várias!

A verdade é uma só: ninguém tem o direito de destruir o relacionamento dos outros só porque quer alguém pra você. Se alguém é comprometido, respeite. Os tempos podem até ser outros, mais modernos, permitir terceiros e quartos envolvidos, mas os combinados são entre os casais. Fulaninhas de fora, quando não convidadas pra festa, não têm direito a palpite ou cadeira cativa. Tem mais é que seguir a vida, certificar-se quem é solteiro e encontrar alguém pra chamar de seu. Só seu. Deus mandou dividir o pão, minha filha, não os outros!