18 fevereiro 2015

O conto de fadas da mulher madura

“Cinquenta Tons de Cinza” não é nenhuma obra de arte da literatura. Pelo contrário: segue uma trama pra lá de básica, tem uma linguagem bem manjada, equivalente à leitura indicada pra meninas adolescentes da terceira série. E, mesmo assim, todo mundo – da sua prima teen até a sua avó coroca – confessaram amor à primeira página e terminaram a trilogia em tempo record.

Claro, as cenas de sexo são bastante satisfatórias, mas não suficientes. Então, se a qualidade da escrita não é primordial e não há nada de mais no que foi reproduzido nas telas, por que raios a história de Christian Grey se tornou uma obsessão entre as mulheres?

A ciência explica o motivo (ou 7 razões diferentes) da mulherada molhar a calcinha com tanta sacanagem e o motivo dessa ficção ter se tornado tão popular nas rodinhas femininas.

1. As mulheres nunca conheceram um cara que possui todas as qualidades de Grey – Não importa se você gosta de Christian ou não, não dá pra negar que a combinação de masculinidade e o “não tô nem aí” soa loucamente atrativa. Trata-se de uma mistura de coisas que, geralmente, não estão lá, o que torna tudo mais sedutor. É difícil pra chuchu conhecer alguém que, além de ser completamente devoto aos seus sentimentos, é incrivelmente sensível e super masculino ao mesmo tempo.  

Há uma razão pela qual livros românticos e filmes do gênero são escritos sobre este cara – ele não existe na vida real. Os homens do cinema são baseados numa mistura praticamente impossível de qualidades, as mesmas características que as mulheres mais apreciariam encontrar num homem. Por exemplo, no início do relacionamento com Grey, Anastasia nunca questionou os sentimentos dele. Ele sempre deixou claro que a queria. Ele não espera um dia inteiro pra responder as mensagens dela ou planejar um encontro, como estamos acostumadas na vida real. Ele está disponível, aparece do nada, não importa quão ocupado esteja. E é exatamente um exemplar assim que as mulheres gostariam de encontrar dando sopa por aí.

2. O filme revive aquele sentimento que tivemos com o primeiro amor – Christian Grey é o primeiro amor de Anastasia Steele e as mulheres acompanham todo o caminho que percorreram ao se apaixonarem pela primeira vez, da diversão às fortes emoções, quando leem a história da moça tímida, recatada e de valores românticos. “Cinquenta Tons de Cinza” ajudou mulheres que já estão num relacionamento longo ou presas a rotina a reviver esses momentos iniciais do romance, quando se apaixonaram pela primeira vez. Mesmo as solteiras puderam relembrar como é perder o controle com alguém que sente o mesmo por elas. É como se você nunca enjoasse da pessoa e, como você não enjoa da pessoa, jamais enjoará da leitura.

3. A tensão sexual entre Grey e Steele – Chegarei no rala-e-rola, mas antes: as preliminares. Pra muitas mulheres, preliminar é a parte mais excitante do sexo. E, adivinha: ela não é deixada de lado no sucesso de bilheterias. É frustrante, em certos momentos, mas é exatamente isso que deixou a mulherada com a cara colada no livro. Dizem que o melhor da festa é esperar por ela. O livro seduz e leva a um outro mundo, fazendo com que a leitora se veja desejada e sensual, o que é ótimo praquelas que andam se sentindo frustradas sexualmente em suas vidas. Até Anastasia concordaria que a espera é a cereja do bolo.

4. Somos quimicamente fascinadas pelo tópico “amor” – É a sessão mais lida nas revistas femininas. Se você já se apaixonou antes, já deve ter experimentado aquela forte sensação de euforia. Se já se sentiu sem ar, altinha, culpe a neuroquímica. A dopamina (um neurotransmissor associado ao prazer) e a oxitocina (hormônio associado a ligações) são liberados nesses momentos de euforia, quando nos apaixonamos. O que acontece no seu cérebro afeta seu comportamento, mesmo que não tenha conhecimento disso. Filmes e livros românticos captam isso quando focam suas histórias apenas no começo dos relacionamentos, momento em que a dopamina te deixa de ponta-cabeça, deixando qualquer uma vulnerável.

5. É um livro pornô – Há um motivo pelo qual não gostamos de imaginar nossas mães lendo esse maldito livro do capeta: porque todas as mulheres se excitam com ele, ora bolas! O livro (ou o filme) não é apenas uma fuga da realidade, mas também uma escapada sexual. Equivale aos filmes de sacanagem assistidos pelos homens, já que cada lado da moeda tem lá suas preferências.

Sem falar nas reações químicas que acontecem. Não é à toa que as pessoas se excitaram com a leitura e nem é preciso ser visual pra excitar. “Use a sua imaginação” era o que você costumava dizer pros meninos quando era mais novinha e... funcionava!

6. O romance hollywoodiano ideal – Especialmente pra quem tende a misturar aquela linha embaçada entre a fantasia e a vida real, este romance faz com que a mulherada compre a história do “relacionamento perfeito” ou do “homem ideal”. Eles usam Anastasia, uma personagem bem comum e imperfeita, pra perpetuar essa ideia tradicional de que as mulheres procuram um cara perfeito, que no fundo nem precisa ser lá tão perfeito assim, mas que só se sentirão completas quando encontra-lo.

É uma baita armadilha: elas começam a se comparar com a personagem e a comparar seu relacionamento com o dos personagens do livro/filme. Apesar de ser misógino e irrealista, acabam presas a um ideal romantizado. A Cinderela da vida adulta é amarrada na cama, toma uns tapas e vira padrão de romance.

7. Toca nas frustrações de estar no controle e se deixar levar – “Cinquenta Tons de Cinza” é apelativo pras mulheres que se encontram numa posição em que acreditam ter controle de tudo. Elas precisam preencher vários papeis na vida real, mas lá no fundo gostariam que os homens tomassem conta. Talvez, a la Christian Grey, quem sabe? O livro acessa essas vontades paradoxais de querer estar no controle e de ser controlada. E quando visto pelo ângulo BDSM o negócio pega fogo, não há mulher que não se renda. A ideia e a luta do controle é evidente em todo o filme e coloca todo mundo pra refletir sobre a vida e os desejos. Christian Grey satisfaz as vontades de Anastasia e a deixa perder o controle, que é um desejo de muitas mulheres que gostam de estar no comando o tempo todo.

Como tantos milhares de expectadores fui ao cinema assistir "Cinquenta Tons de Cinza" na noite de ontem. Nunca li o livro e talvez por isso não tenha criado tantas expectativas. Mas não dá pra negar que o sucesso de público tem suas explicações: ou tem muita gente curiosa a fim de apimentar a relação ou frustradas com o mais ou menos de todos os dias. Seja lá qual for a sua opinião sobre a história, é bom saber em qual time está jogando ultimamente...  

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