30 maio 2014

Maldito zíper!

Já moro sozinha há um bom tempo e, de lá pra cá, aprendi a me virar muito bem sem a ajuda de ninguém. Pago todas as contas da casa, sei trocar a resistência de chuveiro, o próprio chuveiro, lâmpadas, consertar pequenas infiltrações, instalar aparelhos eletrônicos, costurar, cozinhar umas coisas mais elaboradas e uma lista (quase) sem fim de coisas que duvidei conseguir fazer quando aceitei partir pra essa vida longe da barra da saia da minha mãe. Mulher independente deveria se orgulhar das coisas que faz e daquilo que tem que aprender na marra.

Qualquer uma de nós, que manda na própria vida e na própria casa, aprende – de cara – a driblar os potes de palmitos, lacrados e fechados com senha por um homem com o pênis do tamanho de uma azeitona, que precisa provar na rosca de uma embalagem o quanto é forte.  Tenho essa teoria sobre os potes de palmito, molho de tomate e afins, mesmo sabendo que são fechadas por máquinas – provavelmente, ajustadas por homens.

Enfim, a gente aprende técnicas pra trocar um pneu sozinha, a reconhecer peças do carro pelo nome e a sacar quando o mecânico está apenas enrolando, querendo nos passar a perna com a tal rebimboca da parafuseta.

Nos orgulhamos da nossa independência e deixamos orgulhosas aquelas que queimaram o sutiã em praça pública pelos direitos iguais. O problema é que essa independência toda vai por água abaixo quando é testada em alguns momentos, fazendo você questionar toda a sua força de vontade em se virar sozinha...

Zíper nas costas dos vestidos te diz alguma coisa?

Quem é que nunca quis se jogar da janela quando não conseguiu fechar ou abrir a merda do zíper daquela roupa que gosta tanto? E da pulseira chiquérrima que fica linda no braço quando você, depois de uma guerra mundial com o fecho, consegue ajustá-la no pulso?  

Deus – ou seja lá quem foi que criou os pares – mostra nessas horas que realmente ninguém nasceu pra viver sozinho. Ele colocou toda essa teoria no zíper. Nas costas. Dos vestidos. Que mais amamos.

Praticamente, toda mulher já passou por isso: deixou de usar ou comprar uma roupa que gosta porque ela só pode ser fechada por trás, com a ajuda de um exército, do porteiro ou do vizinho. Como você não pediria o auxílio de nenhum deles, depois de exercícios de alongamentos dignos de deixar até a Madonna de queixo caído, você larga a peça na balcão da loja ou, se for daquelas que acredita piamente que um dia vai conseguir se vestir s-o-z-i-n-h-a e leva a bendita pra casa, esquece-a no fundo do armário, cansada da maratona que se torna vestir uma roupa assim.

Não manjo nada de moda, costura ou coisa do tipo, mas – poxa vida, estilistas – qual o problema com os zíperes que vão do lado, daqueles fáceis de abrir e fechar, que dispensam a ginástica na hora de vestir? Concordo que é super sexy precisar pedir a ajuda dos companheiros pra fechar um zíper que vai da bunda até a nuca, mas isso vai bem nos filmes, nos comerciais de lingerie, sabonete ou cerveja. Na vida real, a coisa é complicada e frustrante.

No final das contas, um simples zíper mal colocado faz a gente repensar a vida, rever conceitos e acabar achando que esse papo de independência é coisa de feminista que veste calça jeans, moletom e camiseta Hering, sem nenhuma vaidade...

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