Já moro
sozinha há um bom tempo e, de lá pra cá, aprendi a me virar muito bem sem a
ajuda de ninguém. Pago todas as contas da casa, sei trocar a resistência de
chuveiro, o próprio chuveiro, lâmpadas, consertar pequenas infiltrações,
instalar aparelhos eletrônicos, costurar, cozinhar umas coisas mais elaboradas
e uma lista (quase) sem fim de coisas que duvidei conseguir fazer quando
aceitei partir pra essa vida longe da barra da saia da minha mãe. Mulher
independente deveria se orgulhar das coisas que faz e daquilo que tem que aprender
na marra.
Qualquer uma
de nós, que manda na própria vida e na própria casa, aprende – de cara – a driblar
os potes de palmitos, lacrados e fechados com senha por um homem com o pênis do
tamanho de uma azeitona, que precisa provar na rosca de uma embalagem o quanto
é forte. Tenho essa teoria sobre os
potes de palmito, molho de tomate e afins, mesmo sabendo que são fechadas por
máquinas – provavelmente, ajustadas por homens.
Enfim, a gente
aprende técnicas pra trocar um pneu sozinha, a reconhecer peças do carro pelo
nome e a sacar quando o mecânico está apenas enrolando, querendo nos passar a perna com a tal rebimboca da parafuseta.
Nos
orgulhamos da nossa independência e deixamos orgulhosas aquelas que queimaram o
sutiã em praça pública pelos direitos iguais. O problema é que essa
independência toda vai por água abaixo quando é testada em alguns momentos,
fazendo você questionar toda a sua força de vontade em se virar sozinha...
Zíper nas
costas dos vestidos te diz alguma coisa?
Quem é que
nunca quis se jogar da janela quando não conseguiu fechar ou abrir a merda do
zíper daquela roupa que gosta tanto? E da pulseira chiquérrima que fica linda
no braço quando você, depois de uma guerra mundial com o fecho, consegue
ajustá-la no pulso?
Deus – ou seja
lá quem foi que criou os pares – mostra nessas horas que realmente ninguém
nasceu pra viver sozinho. Ele colocou toda essa teoria no zíper. Nas costas.
Dos vestidos. Que mais amamos.
Praticamente,
toda mulher já passou por isso: deixou de usar ou comprar uma roupa que gosta
porque ela só pode ser fechada por trás, com a ajuda de um exército, do
porteiro ou do vizinho. Como você não pediria o auxílio de nenhum deles, depois
de exercícios de alongamentos dignos de deixar até a Madonna de queixo caído, você larga a peça na balcão da loja ou, se for daquelas que acredita piamente que um
dia vai conseguir se vestir s-o-z-i-n-h-a e leva a bendita pra casa, esquece-a
no fundo do armário, cansada da maratona que se torna vestir uma roupa assim.
Não manjo
nada de moda, costura ou coisa do tipo, mas – poxa vida, estilistas – qual o
problema com os zíperes que vão do lado, daqueles fáceis de abrir e fechar, que dispensam a ginástica na hora de vestir? Concordo
que é super sexy precisar pedir a ajuda dos companheiros pra fechar um zíper que
vai da bunda até a nuca, mas isso vai bem nos filmes, nos comerciais de
lingerie, sabonete ou cerveja. Na vida real, a coisa é complicada e frustrante.
No final das
contas, um simples zíper mal colocado faz a gente repensar a vida, rever
conceitos e acabar achando que esse papo de independência é coisa de feminista
que veste calça jeans, moletom e camiseta Hering, sem nenhuma vaidade...
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