Alguns bons anos atrás, entrei num relacionamento
a distância que durou quase 1 ano. Trocávamos mensagens, ele vinha me visitar
no Brasil com frequência e fazíamos planos. Até que num belo dia (era o feriado
da Independência do Brasil), recebi um email de uma moça que dizia ser a
namorada desta pessoa, o meu namorado. Na mensagem, ela contava sobre o relacionamento
dos dois e como descobriu a minha existência. Minha primeira reação? Liguei na
mesma hora pro filho da puta e exigi explicações. Eu tinha uns 25 anos, era
imatura e respondi o email da coitada – que era tão vítima do safado quanto eu –
com todo tipo de ofensas que você pode imaginar. Sim, essas mesmas e daí pra
baixo.
Defendi o cafajeste, porque acreditei que a mulher
era uma louca desvairada quando, na verdade, ela era uma alma iluminada
tentando abrir meus olhos. Guardei o email e, um ano depois, resolvi responde-lo
novamente, agradecendo a boa ação. O tom foi completamente diferente. Me
desculpei pelas ofensas e me lembro de ter trocado algumas mensagens com a moça
depois disso. O que ela tinha me dito era a mais absoluta verdade.
Alguns outros bons anos se passaram e, me vi no
lugar dessa mulher: resolvi procurar a namorada de um cara que mantinha o
relacionamento com nós duas quando descobri a infidelidade. Pisei em ovos ao
abordá-la, porque já estive do outro lado da mensagem, mas pra minha surpresa
ela disse que já desconfiava de algo. No começo, me agradeceu, admirou minha
atitude, fez um milhão de elogios, mas no minuto seguinte ligou pro cara pra
dizer que eu era biruta. Talvez não soube lidar com tanta informação e preferiu continuar acreditando na mentira.
Eu, no fundo, só queria me desculpar por qualquer
mal estar que tivesse causado ao relacionamento dos dois. Não era minha culpa.
Não era eu quem deveria me desculpar, mas resolvi fazer porque me sentia mal. Eu
não sabia da existência dela. Tive boas intenções e, me fodi! Os dois se
juntaram pra falar mal de mim. Não que eu ligasse pra isso, mas questionei a minha honestidade.
No início deste ano, recebi mais um desses e-mails
surpresa. A moça abriu o coração, ouvi toda a história dela, falei da minha,
comparamos e demos boas risadas. Afinal, éramos duas mulheres maduras, educadas
e bem-resolvidas. Nos falamos até hoje. Nenhuma de nós procurou o cara em
questão pra fofocar sobre as mensagens trocadas. Ia adiantar alguma coisa? O
cara mentiu pra ambas! Ao procura-lo pra tirar satisfação, ele mentiria de
novo, diria que éramos piradas e jamais assumiria a culpa. Mentirosos detestam ser questionados e descobertos. Fato!
Há alguns dias, resolvi conversar com alguém sobre
o que ouvi a respeito dessa pessoa. Não havia namorado em questão, ou
infidelidade, mas um passado em comum. A gente sempre acha que vai ajudar...
Mas, nem sempre é visto assim. O que eu disse foi checado com o mentiroso, o
mentiroso mentiu de novo. E, alguém acreditou...
A questão é: até que ponto as pessoas querem mesmo
ouvir a verdade? Ou será que elas gostam de ouvir a verdade só quando ela soa
bem? Fechar os olhos pra ela não fará com que desapareça. Muitos se esquecem que nem sempre a verdade vem coberta com chantilly e
com uma cereja no topo. Aprender a ouvi-la é uma lição diária, que faz crescer
e é libertador. Estou sempre do lado e atrás dela, até porque fui educada
assim. Mas, depois deste último episódio, não sei mais se gritaria a verdade
pra qualquer um... Os mentirosos ainda são mais sedutores que os sinceros. Triste, né? Mas verdadeiro...
Um comentário:
Muito bom parabéns...
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