Já desisti de
sair num sábado à noite por causa da preguiça. Já desisti de comer a sobremesa
com medo de estragar a dieta. Já desisti de enviar cartas de amor, porque
talvez não fosse compreendida. Já desisti de postar assuntos polêmicos pra não
causar discórdia. Já desisti de uma briga, porque não valia a energia
desperdiçada nas discussões. Já desisti de acordar cedo num final de semana de
sol, porque estava cansada demais da semana. Mas, nunca desisti da vida.
Todo mundo
conhece alguém que sofre ou já sofreu com a depressão, aquela tristeza profunda
que parece não ter fim, nem cura, nem remédio, nem mesmo vontade de sarar. A gente
costuma achar que não passa de frescura, mas pelo menos 5% da população mundial
tá, nesse momento, sem a menor vontade de sair da cama e, 15 entre 100
deprimidos irão cometer suicídio eventualmente. Depressão é uma doença e o
preconceito só atrapalha a busca pela cura. Muitas vezes, por melhores que
sejam as intenções dos amigos, só conversas de mesa de bar, desabafos regados a lágrimas e aquele
ombro acolhedor, não são suficientes.
Esta semana,
Robin Williams chegou ao limite. E você pensando como alguém com tanta fama,
dinheiro e realizações poderia se matar, tendo tudo o que muita gente sonha nas
mãos. Depressão não escolhe carreira, beleza ou status social. E Robin Willians
jogou a toalha, fazendo a depressão vencer mais uma batalha.
É errado
achar que o suicídio vai libertar alguém do sofrimento, fazer com que esta pessoa encontre, finalmente, a
paz. Ao dar um fim na própria vida, o ator com cara de fofo e feliz mostrou que
também era humano. A morte dele não é mais importante só porque todos o conhecem,
não porque ele partiu, mas porque ele escolheu deixar o mundo.
Tem gente que
acha suicídio um ato de coragem. “Como é que o sujeito teve colhão pra se jogar
da ponte, atirar na própria cabeça, se enforcar, tomar uma dose potente de
remédios ou se envenenar?”, você se pergunta. Outros acreditam ser o extremo da
covardia; afinal, todos nós estamos na vida pra enfrentar problemas,
resolvê-los, vencê-los, porque a vida não é fácil com ninguém.
Não consigo
compreender tanta e absoluta rejeição a vida, a falta de capacidade de ver o
valor em seja lá o que for a ponto de se perder toda a esperança. É uma escolha
trágica, e isso deve ficar claro: suicídio, apesar de horrível e desesperador, é
uma escolha. Ele não acontece com
alguém, não te ataca como uma doença ou um furacão. Robin Williams era genial,
mas ele não morreu de depressão, não é isso o que irá aparecer nos laudos da
autópsia, porque depressão – sozinha – não mata ninguém, não te sufoca e nem
faz seu coração parar. Por mais triste que seja, ele morreu pela escolha que
fez. É uma escolha puxar o gatilho, se envenenar, pular da janela, desistir de vez.
Por mais
triste que esteja, você não precisa escolher tirar a própria vida, como se ela
fosse o presente de Deus (ou seja lá no que acredita) que você não gostou e
quer devolver insatisfeito ao remetente em forma de protesto. Suicídio não acaba com o sofrimento,
só o transfere pra quem fica por aqui, pro resto da vida deles. A vida existe
e todos nós fomos feitos pra vive-la. Não desista da luta, porque esperança não
se mata, ela é a última que morre.