Tem duas coisas nessa vida que me fazem querer enfiar a cabeça num buraco e desaparecer: a primeira é quando cantam "Parabéns pra você" no meu aniversário, a segunda é quando me fazem um elogio. Eu não sei o que fazer em nenhuma das duas situações. Não sei onde colocar as mãos, o que fazer com o afago ao ego, onde enfiar a cara - se é realmente num buraco - ou como devo responder. Simplesmente não sei receber elogios!
Você ganha o respeito e a admiração de alguém, mas não sabe o que fazer com isso, se sente incomodado com os aplausos e a paparicação, mas também não quer deixar quem te proferiu tanta gentileza numa saia justa daquelas bem desconfortáveis. A verdade é que ninguém quer gerar esse efeito quando elogia alguém, mas sabe como é... Numa hora dessas não dá pra fugir do "Ah, que isso... são seus olhos!" e aquela cara de tacho famosa e envergonhada.
Imagina a cena: você tá usando aquela roupa nova, que custou o olho da cara, durante uma reunião de família e, um dos seus parentes, resolve dizer que você tá linda. Ao invés de encher o peito e se sentir a tal, você não apenas não tem a menor ideia do que fazer com a bajulação, mas aproveita a oportunidade pra se jogar na lata do lixo, junto com o elogio. "Com essa coisa aqui? Ih, faz tempo que tenho, comprei numa liquidação... Decidi colocar na pressa e nem gosto tanto assim. Mas que bom que gostou". Quem nunca fez isso, que atire a primeira pedra na própria cabeça! Depois dessa explicação desnecessária, o parente tão atencioso e simpático se arrepende de ter abrido a boca porque acha que, ao invés de elogiar, te ofendeu. Resultado: as duas partes tomam o elogio como um insulto, fim do parentesco, um beijo e até o Natal.
O trauma de receber elogios vem, muitas vezes, da infância. Quando surgem os primeiros elogios, a criança tem duas opções: ou usar o que ouviu como um estímulo pra ser sempre melhor e imbatível ou entender aquilo como uma pressão, pra ter que ser sempre melhor e imbatível. Quando vai ver, não sabe mais o que fazer com o elogio, se dobra e põe no bolso ou se manda pendurar na porta de casa.
Fomos ensinados, a vida inteira, sobre as virtudes da modéstia. Daí vem alguém, fala dos seus lindos olhos, de como você joga bem um certo esporte ou como seu novo corte de cabelo te rejuveneceu uns 20 anos e você, sem saber o que fazer com aquela informação preciosa, acaba se passando por grossa. Enquanto os mais narcisistas não apenas a-m-a-m os elogios, mas esperam por eles, nós - candidatas a Miss Qualquer Coisa - somos reduzidas a gelatina quando chamamos a atenção pelos nossos atributos, habilidades ou comportamento, como se aquilo jamais pudesse ter sido notado.
E nessa briga entre a modéstia e a educação, de que lado a gente tem que ficar, no final das contas? Bom, quando um elogio é sincero, feito de coração, sem nenhuma dose de sarcasmo ou ironoa, o melhor a fazer é agradecer com um bom "muito obrigado". O que você disser depois disso, vai depender da intimidade que tem com a pessoa ou com o seu nível de timidez. Não discorde do elogio, aceite e faça aquela cara de aprovação, não se faça de surda só pra ouvir o elogio novamente, não peça explicações, apenas dê uma resposta curta e simpática. Se nada disso te fizer se sentir confortável, apele pro humor e manda o clássica "Ah, são seus olhos".
Todo elogio é um julgamento e é OK não saber como receber. Afinal, ninguém gosta de ser avaliado, mesmo que a nota em questão, no final, seja super positiva.
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