18 abril 2014

No controle, os manipuladores

O cuidador emocional é chamado assim, pois é o vigilante dos sentimentos, das necessidades e desejos de um manipulador emocional. É ele que cede aos desejos do manipulador, abrindo mão dos seus próprios desejos e até mesmo das suas necessidades de bem estar. Eles cedem apenas “pra manter a paz” e agradar a outra pessoa – sem que isso resulte em qualquer melhora no relacionamento.
 
Esses cuidadores são carinhosos, preocupados, generosos e pessoas de extrema confiança. Eles querem agradar os outros de coração e são, em sua grande maioria, ótimas pessoas. Porém, podem ser facilmente manipulados pelos outros, porque tendem a ser passivos e bastante complacentes, além de sentir um alto grau de culpa e obrigação, ou até mesmo medo da raiva que os outros podem sentir. Um cuidador emocional prefere ser ele a se sentir magoado, bravo ou deprimido a fazer com que a pessoa com quem ele se importa passe por qualquer um desses sentimentos. Isso faz deles pessoas extremamente vulneráveis e acabam ficando nas mãos daqueles que gostam de tirar vantagens, além de serem destratados no relacionamento com pessoas que são extremamente egoístas e obstinadas.

Muitos desses cuidadores nem se dão conta do quanto abrem mão das coisas deles em prol dos outros. Quando percebem, eles podem se tornar ressentidos e bravos – mas as chances de continuarem agindo da mesma forma são grandes. Tais clientes sempre me perguntam, “Por que escolhi estar num relacionamento com alguém que é tão egoísta?”. A verdade é que a personalidade dessas pessoas funciona como um imã que atrai os manipuladores emocionais. No começo, o relacionamento parece maravilhoso – uma pessoa que adora dar e outra que gosta de receber. Infelizmente, muitas vezes quem recebe só quer receber mais, e da maneira deles. Enquanto que o cuidador, secretamente, espera que as coisas vão se equilibrar no decorrer do relacionamento, o que nunca acontece.

(Não acredito que esses cuidadores emocionais e os co-dependentes sejam a mesma coisa: a maior parte dos cuidadores é altamente prática, positiva e prestativa tanto no trabalho quanto com os amigos – enquanto que os co-dependentes são tipicamente passivos, não se acham válidos, acreditam não ter poder ou competência na maior parte de seus relacionamentos).

Quando os cuidadores estão num relacionamento com pessoas que respeitam, valorizam e recompensam positivamente seu carinho, eles conseguem fazer com que suas necessidades sejam satisfeitas e há um equilíbrio no dar e receber. E esses cuidadores têm, geralmente, relações muito positivas ao longo da vida. Mas num relacionamento mais íntimo com um manipulador os valores e crenças desses cuidadores não são valorizados no que diz respeito a dar e se preocupar – e o medo que eles têm da raiva, hostilidade e rejeição de seus manipuladores fazem com que se tornem reféns. Quando o cuidador discorda ou quer algo diferente da vontade do manipulador, eles nem sempre conseguem estabelecer os limites, colocar-se ou resolver as diferenças porque o nível do “combate” passa longe da habilidade e dos valores que eles têm. Ficam à mercê de um parceiro, cujo objetivo é ter o que querem, não importa como ou se irão magoar alguém.

Qual é o preço que se paga por ser um cuidador emocional num relacionamento com um manipulador? Perda de autoestima, aumento da ansiedade e depressão, um crescente sentimento de falta de esperança, exaustão, sensação de vazio e muita mágoa, medo e frustração. É muito comum que os cuidadores se sintam presos no relacionamento pelo senso de lealdade que tem e a relutância em magoar a outra pessoa, não importa o que essa outra pessoa tenha feito.

Ao invés de reagir com brigas, a maior parte desses cuidadores responde a esses perigos, a raiva e a hostilidade ficando quietos. A respiração fica mais fraca, eles congelam, e esperam o perigo passar. Esse tempo que passam quietos deixam seus pensamentos  confusos, os músculos ficam tensos e até o nível de digestão ou batimentos cardíacos diminuem. Essas reações podem causar problemas físicos como enxaquecas, indigestão, insônia, dor nas costas, nuca e ombros, e um total sentimento de impotência.
E como alguém consegue deixar de ser um cuidador emocional? A coisa mais importante a se fazer é se valorizar e tratar-se com o mesmo respeito que dá aos outros. Valorize suas próprias vontades, desejos e preferências. Imponha limites que não dão a chance dos outros invalidar você, ou deixa-lo pra baixo ou ignorar o que é importante pra você. Aprenda a brigar e escapar eficientemente quando estiver em perigo.


Preocupe-se com você mesmo antes de qualquer coisa e só depois ofereça seu carinho aos outros. Isso pode mudar sua vida...

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