Quanto tempo vai durar essa obra? |
Tenho sido bastante ofendida por “amigos” no Facebook quando posto minhas opiniões a
respeito do que vem acontecendo no país. Bom, como resposta deleto e bloqueio
todos, pra ter certeza de que os pontos-de-vista ditatoriais deles não me
incomodarão mais.
Eu nasci na Ditadura (tinha quase 10 anos quando ela acabou),
enquanto eles ainda estavam no saco do pai e ainda nem eram planejados. Lembro
da minha “hora de ir dormir” ser marcada por um documento que mostravam na TV antes
de um programa começar. Vi (e me lembro beeem!) as Diretas Já, a eleição do
primeiro presidente depois disso, acompanhei o enterro dele pela televisão, a
Constituição de 1988, tive aulas de Educação Moral e Cívica na escola, acompanhei
o Impeachment do Collor e tudo o que se seguiu, politicamente, depois disso. Eu
não nasci ontem e nem votei em NINGUÉM que está atualmente no poder, porque
anulei meu voto nas últimas eleições como forma de protesto (ah, se naquela
época eu tivesse sido maioria...).
Acho digno um país protestar por mudança. O que se viu
ontem, pelo menos aqui em São Paulo, pode ter calado meu discurso em partes.
Mas acho que ainda faltam argumentos pra me convencer de que toda essa luta vai
valer a pena. Sabe por que? Justamente porque não nasci ontem. Vi o povo nas
ruas pelo Impeachment do Collor e, pouco depois, abandonar a luta porque dois
anos mais tarde a conquista da Copa do Mundo era mais importante... Assim como
a micareta, encher a cara com os amigos nos bares durante partidas de truco, as
viagens de férias pra fora do país.
Infelizmente, a memória e a força de vontade do brasileiro
são curta e pequena. Quero muito estar errada, juro! Mas ouvir dos próprios
manifestantes “quero acreditar” é até meio desanimador. “Acreditar” é pouco.
Tem que “fazer”. Aliás, fazer. Sem aspas mesmo. E isso deve começar pelos
cartazes e pichações que tenho visto esses dias.
Não faço parte desta maioria que estava sentada no sofá, que
resolveu acordar e colocar as asinhas de fora. Enquanto eles acompanhavam todas
as edições do Big Brother, eu estava estudando, trabalhando, lendo livros,
alimentando meus argumentos. Sempre é tempo pra acordar? Claro! Mas acho que o
povo brasileiro estava hibernando. Ontem fui criticada por estar trabalhando e
não, protestando. O país tá tão de ponta-cabeça, com valores tão invertidos que
trabalhar passou a ser considerado o cúmulo do absurdo.
Eis aqui a minha resposta
ao que reivindicam:
- Todos nós temos direitos, mas o seu direito termina onde
começa o meu. Pichar muro é invasão ao espaço de outro alguém. E sabe quem paga
pelo vandalismo e depredação em locais públicos? Você mesmo (ou o seu pai),
otário! Reivindicando por salários melhores e redução de impostos enquanto se
quebra um país, quem paga a conta é você.
- Seu salário não aumentou porque é, provavelmente, uma
acomodada. Aliás, quais as chances do seu salário aumentar se você não trabalhou
ontem? O meu, por ser dedicada e responsável, aumenta todo ano! Quer ganhar
dinheiro no mole? Vá ser política! Pelo menos já está agindo como uma, falta apenas
conseguir votos...
- Realmente não são só 20 centavos. São anos de gente
votando errado, elegendo palhaço e jogador de futebol pra representá-lo no
Congresso. Vinte centavos não é nada comparado à imbecilidade de um povo que
brinca quando vai às urnas. O maior protesto deve ser feito nas eleições, mas
já se passaram algumas e o povo, apesar de reclamar dos governantes, continuam
elegendo os mesmo.
- Nem todos são como a grande maioria – que passa o dia no Facebook ou dando ibope pro BBB. Eu, por
exemplo, não sei nem qual é a programação da Globo, já vocês parecem bem
inteirados quanto a ideologia desta emissora... Não foi esse um dos muitos
argumentos gritados nos protestos? Quem é que fica na frente da TV, hein?
- Eu, sentada no sofá? Não, não querido/a. Trabalhando, e
muito. Aconselho vocês a fazer o mesmo. Não mata ninguém e é a forma mais forte
de protestar, até porque o governo não sabe o que é isso. Gente que promove
paralisação gosta de férias. Nunca vi ninguém mudar, estacionado no mesmo
lugar.
Quando os argumentos do protesto forem justos, quem sabe eu
não abrace a causa. Apoio a mudança no país. Aliás há muito tempo (basta fuçar
meus posts aí...). Mas coerência não faz mal a ninguém. Apoio protestos nos
finais de semana (enquanto boa parte dos manifestantes está com a cabeça na
balada), desde que pacíficos (porque ninguém ganha briga no grito) e organizados
(porque de bagunça já basta este país).
Enquanto o brasileiro não respeitar faixa de pedestre, vaga
de deficiente físico e fila de idoso não terá o meu respeito também.
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