22 março 2011

Até quando?



Já reparou que - cada vez mais - vivemos a vida, o hoje, com a certeza de que amanhã estaremos aqui de novo? Só que não é bem assim. Não dá pra saber quando vai ser o último hoje da nossa vida. Quando "amanhã" não vai chegar. Ou mesmo quanto o próximo segundo será generoso o bastante pra te deixar vivo.

Planejar. Agendar. Programar. Fazer tudo com antecedência pensando na velhice é, talvez, a maior perda de tempo. Pode ser prudente, mas enquanto se planeja o futuro, agenda coisas pra serem feitas lá na frente, se planeja o que se quer da velhice, deixamos de viver o agora. E ele não volta. Nunca.

Chega a ser irônico o quanto a morte nos faz pensar na vida. O tempo todo a vida dá sinais de que é boa, de que vale a pena, mas é a morte, o fim de tudo, que nos faz acordar pra aproveitar o que ainda nos resta. Infelizmente, alguém precisa partir pra ensinar os outros a viver melhor. Ou, simplesmente, viver.

Quando alguém se vai, muitas vezes achamos que a vida não é justa. Ou até que Deus não o é. Na verdade, não é nada disso. Complicamos as coisas simples, deixando de aproveitar o que temos aqui. Vivemos o tempo que devemos viver e ensinamos as lições que precisamos ensinar, sem saber até quando nossa missão vai durar. Aliás, nem sabemos qual ela é. Resta aos outros decifrá-la no dia em que partirmos. Esquecemos que as pessoas são empréstimos de Deus e que a vida é justa, sim. Pois tivemos a sorte de tê-las, em algum momento, mesmo que ele não seja tão longo, por perto.

Aceitar a perda pode ser doloroso. Mas a lição que ela nos deixa vale uma vida inteira.


(Post dedicado ao Rodrigo Coelho)

04 março 2011

Na minha época



Vi o McDonald's chegar ao Brasil. Joguei Enduro e Pac Man no Atari. Bebi muita Coca-Cola na garrafa de vidro. Pulei amarelinha na rua, desenhada com pedaços de tijolo, até anoitecer. Criava cadernos de perguntas e dava pros meus amigos responder e assinar. Tive caderno de caligrafia. Decorei a tabuada. E comemorei meus aniversários com brigadeiro feito em casa e bala de coco enrolada no papel de seda colorido.

Não desmereço a modernidade e muito menos a tecnologia. Afinal, seria contraditório demais negar sua importância enquanto atualizo um blog na internet. Mas acho que certas coisas perderam um pouco o valor com tantos avanços feitos.

Sou da geração que viveu esta transição. Fiz pesquisas dos trabalhos da escola nas Barsas da biblioteca e escrevia resumos em papel almaço. Hoje, não dispenso o Google, apesar de ter vivido muito tempo sem ele. E sobreviver. Por isso, sei que existe vida sem tanta modernidade.

Naquela época, o mundo tinha fronteiras e, talvez por este motivo, as coisas pareciam mais fáceis. Bem mais tranquilas. Batedores de carteira eram criminosos perigosos. E assistir à primeira guerra televisionada era o auge da globalização. Só não sabíamos que isso chegaria tão longe, tão rápido.

Eu sou do tempo em que as pessoas se conheciam nas vida real. Não existia Orkut, Facebook ou Twitter. As fofocas eram passadas de boca em boca e os scraps chegavam em forma de envelope, pelo Correio. Aliás, sou da época em que o Correio só servia pra mandar cartas e não pra pagar contas ou comprar Telesena.

Sou do tempo em que os mais novos respeitavam os mais velhos. Que a música que se aprendia na escola era o Hino Nacional. Sou da época em que se plantava feijão no algodão, porque celular eram coisas pros adultos. Andava de bicicleta na rua sem correr o risco de ser atropelada, descia ladeira de carrinho de rolimã, pulava com Pogobol.

As meninas pintavam o cabelo com papel crepom e não alisavam os fios com tanta química. Elas comemoravam as festas de 15 anos como festas de 15 anos, e não eventos sociais que custam o preço de uma casa. E ainda levavam ovadas na saída da escola. As fotos eram tiradas para recordar um momento e não para serem colocadas por aí. Crianças colecionavam geleca e não bichinhos virtuais. O bom era jogar bola na rua e não wii trancado dentro de casa. Plutão ainda era um planeta, as provas tinham cheiro de álcool do mimeógrafo. O pãozinho francês custava só R$0,10, a brincadeira do copo dava medo e o "peraí, mãe" era pra não sair da rua e não do computador.


Os tempos mudaram. E vão continuar mudando. Mas seria muito positivo se fosse tudo positivo. Não vejo as pessoas sabendo usar tanta tecnologia e modernidade com sabedoria. O que me faz sentir, cada vez mais, saudade da época em que eu ainda era uma criança.

03 março 2011

O outro lado do post anterior


Tá, vai... Confesso. Morar sozinha não é ruim. Se bem que depois do post anterior, duvido que muita gente se animaria a começar essa jornada tão incerta. Mas, tenho que admitir: morar sozinha é do caralh*!

Toda vez que tenho pesadelos, nesses sonhos tô dividindo uma casa - geralmente a minha mesmo - com minha mãe e irmão. Apesar de amá-los demais, de serem minha família, não me imagino morando com eles novamente. Aprendi a gostar de ter o meu espaço, de mandar nele e perder isso é tortura até em sonho. Poder fazer o que quero, na hora que me agrada e do jeito que me faz feliz é a melhor coisa do mundo!

Já faz tempo que não preciso comer todas as verduras que minha mãe escolhia pro jantar... Odeio legumes e essas coisas verdes. Mesmo sentindo falta do arroz e do feijão que ela fazia com tanto amor, posso me entupir de Doritos e Coca Cola quando chego em casa cansada do trabalho, sem paciência pra cozinhar, e não engolir aquele monte de mato só porque era o cardápio do dia.

Aonde você deixa a toalha depois do banho? Morando com os pais, a toalha fica aonde sua mãe quer. Não naquele lugar em que você esqueceu ou que prefere deixar. É lógico que, se você sair de casa e deixá-la largada, quando voltar pode encontrá-la no meio da sala, arrastada pelos fungos ou no mesmo lugar onde deixou, já que ninguém vai pendurá-la pra secar. A vantagem é não ter que ouvir groselha só porque a toalha não estava aonde "deveria" estar, segundo o Imaginário Decreto Mundial do Lugar para Pendurar Toalhas.

Não existe nada melhor do que poder comer no cômodo que mais te agrada. Confesso que, às vezes (mas bem às vezes mesmo), é ruim não ter com quem dividir a mesa do jantar. Mas comer em frente à TV, sem ter que socializar enquanto assiste o programa que mais gosta é impagável. Aliás, quem manda no controle remoto aí na sua casa? Eu tenho 5 e mando em todos eles. No volume, na programação e no lugar onde eu acho que devem ficar.

Já acordou atrasado pro trabalho e quando voltou pra casa depois de um dia do cão ouviu aquele esporro interminável por não ter arrumado a cama? Nem precisa tanto... Já acordou sem o menor saco pra arrumar a cama? Meu quarto, meu armário, minha mesa de trabalho e a pia da cozinha ficam do jeito que eu quero.

Não existe nada melhor do que sair e não precisar ligar pra casa pra avisar que vai chegar um pouco mais tarde, seja lá o motivo que for. Aliás, é constrangedor estar no meio de uma "situação" e parar tudo pra ligar e avisar que não vai dormir em casa. Eu poderia até ligar, mas não tenho nem secretária eletrônica pra pegar o recado. Saio e chego na hora em que eu bem entender e posso trazer pra casa quem me der na telha.

Quando vou ao supermercado, posso parecer - ao mesmo tempo - uma criança de 5 anos enchendo o carrinho de Danoninho, ou um homem de 30 comprando cerveja pro churrasco da vida dele. Optar por miojo no lugar das verduras, comida congelada pra forrar o freezer, latas e latas de leite condensado e muito refrigerante faz a vida de quem não divide nada com ninguém parecer uma festa sem fim. Sim, morar sozinho pode não ser nada saudável, pode ser ainda um pouco solitário e, às vezes, estressante, mas quem manda no seu pedaço é você. E todas as vantagens fazem do post anterior bons conselhos, mas desse aqui a melhor decisão da sua vida!