04 março 2011

Na minha época



Vi o McDonald's chegar ao Brasil. Joguei Enduro e Pac Man no Atari. Bebi muita Coca-Cola na garrafa de vidro. Pulei amarelinha na rua, desenhada com pedaços de tijolo, até anoitecer. Criava cadernos de perguntas e dava pros meus amigos responder e assinar. Tive caderno de caligrafia. Decorei a tabuada. E comemorei meus aniversários com brigadeiro feito em casa e bala de coco enrolada no papel de seda colorido.

Não desmereço a modernidade e muito menos a tecnologia. Afinal, seria contraditório demais negar sua importância enquanto atualizo um blog na internet. Mas acho que certas coisas perderam um pouco o valor com tantos avanços feitos.

Sou da geração que viveu esta transição. Fiz pesquisas dos trabalhos da escola nas Barsas da biblioteca e escrevia resumos em papel almaço. Hoje, não dispenso o Google, apesar de ter vivido muito tempo sem ele. E sobreviver. Por isso, sei que existe vida sem tanta modernidade.

Naquela época, o mundo tinha fronteiras e, talvez por este motivo, as coisas pareciam mais fáceis. Bem mais tranquilas. Batedores de carteira eram criminosos perigosos. E assistir à primeira guerra televisionada era o auge da globalização. Só não sabíamos que isso chegaria tão longe, tão rápido.

Eu sou do tempo em que as pessoas se conheciam nas vida real. Não existia Orkut, Facebook ou Twitter. As fofocas eram passadas de boca em boca e os scraps chegavam em forma de envelope, pelo Correio. Aliás, sou da época em que o Correio só servia pra mandar cartas e não pra pagar contas ou comprar Telesena.

Sou do tempo em que os mais novos respeitavam os mais velhos. Que a música que se aprendia na escola era o Hino Nacional. Sou da época em que se plantava feijão no algodão, porque celular eram coisas pros adultos. Andava de bicicleta na rua sem correr o risco de ser atropelada, descia ladeira de carrinho de rolimã, pulava com Pogobol.

As meninas pintavam o cabelo com papel crepom e não alisavam os fios com tanta química. Elas comemoravam as festas de 15 anos como festas de 15 anos, e não eventos sociais que custam o preço de uma casa. E ainda levavam ovadas na saída da escola. As fotos eram tiradas para recordar um momento e não para serem colocadas por aí. Crianças colecionavam geleca e não bichinhos virtuais. O bom era jogar bola na rua e não wii trancado dentro de casa. Plutão ainda era um planeta, as provas tinham cheiro de álcool do mimeógrafo. O pãozinho francês custava só R$0,10, a brincadeira do copo dava medo e o "peraí, mãe" era pra não sair da rua e não do computador.


Os tempos mudaram. E vão continuar mudando. Mas seria muito positivo se fosse tudo positivo. Não vejo as pessoas sabendo usar tanta tecnologia e modernidade com sabedoria. O que me faz sentir, cada vez mais, saudade da época em que eu ainda era uma criança.

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