Faz tempo que não passo por aqui. Anos, né? E nos últimos dias tenho lido a seguinte frase "O silêncio é ensurdecedor" e, por isso, não podia ficar quieta.
Os últimos 76 dias para mim tem sido um desafio. Morando sozinha, estou há quase 3 meses afastada de qualquer contato humano com pessoas que conheço e amo. Achei que seria fácil. Mas como sofro de ansiedade, acreditando que desligando a TV estaria salva e imune à toda negatividade repetida e compartilhada por amigos, conhecidos e familiares em todas as mídias sociais que uso. Me isolei mais ainda e... bum! Há 2 semanas essa sensação de dor no peito, semelhante ao infarto e a falta de ar estão acabando comigo.
Bloqueei muita gente. Gente querida, inclusive. Mas não podia deixar que a energia delas estragasse a minha. Muitas delas têm gente pra abraçar antes de ir dormir, têm companhia durante as refeições, podem sentar no sofá, assistir e comentar as notícias que assistem. Eu só recebo tudo passivamente sem ter ninguém para olhar nos olhos e dizer "não estou bem".
Na semana passada, a companhia de alguém foi morto por um policial durante uma abordagem abusiva. Sabe o que é engraçado? A minha ansiedade surgiu depois de eu ser abordada por um policial de forma abusiva. Mas por ser branca e mulher, ouvi apenas um "você é gostosa, pode seguir". Não fui "agredida", mas desde então não consigo respirar direito. Por isso, ver George Floyd sofrer, chamar pela mãe antes de morrer asfixiado por um policial que se sente superior por ser portador de uma arma e da lei acima de tudo, me partiu o coração e tem me perturbado desde então.
O mundo está uma merda agora. E ainda estou tentando entender qual é a lição que tenho (ou temos) que aprender pra sair desse ano como seres humanos melhores. Mas e se eu já for aquela pessoa que respeita o próximo e não discrimina ninguém, o que eu tenho que aprender com isso? Se já tenho empatia com todos? Que raios preciso aprender com isso?
Talvez aprender não seja o caso, se você já faz isso como instinto. Talvez a sua tarefa neste momento seja fazer com que mais pessoas sejam e pensem como você.
Ontem e hoje, depois de compartilhar em minhas redes sociais algo sobre George Floyd, ouvi alguém dizer "por que você não sente a mesma empatia por pessoas do seu país?". Tenho pena de quem pensa assim, achando que não me importo com quem vive aqui. Sinto por todas as vidas que são perdidas de forma injusta. Vida é vida, independente da nacionalidade, babaca! Se simpatizei mais com X ou Z é porque algo ali me afetou mais, me fez pensar, me fez sair da zona de conforto e vir aqui atualizar um blog que não entro há anos. Isso não faz a vida de Y ou W ser menos importante. Isso não tem a ver com visão política, não tem a ver com nacionalidade ou cor da pele... Isso tem a ver com empatia, aquela arte de se colocar no lugar do outro, mas que pode ser muito difícil pra quem acha que é melhor que o próximo.
Se você não tem empatia com a minha empatia, você pode ser a causa do mundo estar como está. Você é o ar que falta pra alguém. Faça-nos um favor: aproveite este momento pra repensar suas atitudes. E deixe os outros respirarem.
#blacklivesmatter
#GeorgeFloyd
#Icantbreath
#Letthembreath
Em tempo: não atualizo o blog, mas posto diariamente no Instagram: julianawashington
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