Explorando a imaginação |
Posso ser considerada nova, ter carinha de bebê, mas já fiz tanta
coisa nessa vida... Já viajei por todos os continentes, tive filhos (muitos!),
dirigi carros grandes e de luxo, morei numa casa linda e em castelos, fui
secretária, dona-de-casa, arquiteta, escritora, professora e empresária. Já
cozinhei pratos exóticos, fui modelo, cantora, apresentadora de TV e até
Paquita! Namorei o Tom Cruise na época do
Top Gun e o menino do Karatê Kid,
aquele do primeiro filme. Fui rica, muito rica! Ish... Já fiz tanta, mas tanta
coisa!
Pensei nisso outro dia enquanto assistia meninas de 5 anos brincando
no jardim da escola. Tudo o que elas tinham em mãos, naquele momento, era uma
única boneca, que na cabeça delas ainda estava pra nascer. Cada uma delas
interpretava um papel: pai, mãe, professora e babá. Num momento estavam
aguardando o nascimento do “bebê”, no seguinte dirigiam carros imaginários,
falavam com pessoas imaginárias, comiam comidinhas imaginárias, ensinavam
crianças imaginárias, moravam numa cidade imaginária e tinham uma rotina
imaginária. Exatamente como eu fazia quando era criança.
Crescemos e passamos a dar valor pras mesmas coisas que valorizávamos
quando crianças, mas que estão – muitas vezes – longe do nosso alcance (uma
pena, Tom Cruise...). Só que aquelas coisas custam dinheiro, muito dinheiro,
dinheiro real e, por isso, acabamos crescendo frustrados. Não valorizamos
aquilo que, na real, somos capazes de conquistar com o nosso suor e esforço.
Ficamos presos a essa infância, época em que a nossa moeda mais poderosa era a
imaginação. Éramos extremamente felizes com as coisas que não podíamos ter e
que existiam só na nossa cabeça. Hoje, somos infelizes com aquilo que temos,
que podemos comprar, porque queremos sempre mais.
O que acontece com a gente quando a gente cresce? Que coisa é essa da
infelicidade pós-infância? Se é a infância o período da vida em que mais
aprendemos a partir de exemplos, por que mudamos tanto quando nos tornamos
adultos? Ser criança é muito bom. Viver da imaginação, ter poucas
responsabilidades, brincar o tempo todo, ser paparicado por alguém é incrível.
Mas, cada coisa na sua fase. Tudo tem um momento certo. As lições da escola são
substituídas pelos relatórios no trabalho, a comidinha de mentira é trocada por
jantares de verdade, ganhamos um diploma e com ele uma profissão, as casas
ganham paredes e os carros, rodas. As notas se tornam promoções e aumentos de
salários.
Se parar pra pensar, os sonhos de infância se tornam reais. Talvez não
na medida em que sonhamos ou sonhávamos, porque imaginação não tem limites. Mas
que eles se realizam, ah.... realizam!
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