13 agosto 2014

Desistir não é uma opção

Já desisti de sair num sábado à noite por causa da preguiça. Já desisti de comer a sobremesa com medo de estragar a dieta. Já desisti de enviar cartas de amor, porque talvez não fosse compreendida. Já desisti de postar assuntos polêmicos pra não causar discórdia. Já desisti de uma briga, porque não valia a energia desperdiçada nas discussões. Já desisti de acordar cedo num final de semana de sol, porque estava cansada demais da semana. Mas, nunca desisti da vida.

Todo mundo conhece alguém que sofre ou já sofreu com a depressão, aquela tristeza profunda que parece não ter fim, nem cura, nem remédio, nem mesmo vontade de sarar. A gente costuma achar que não passa de frescura, mas pelo menos 5% da população mundial tá, nesse momento, sem a menor vontade de sair da cama e, 15 entre 100 deprimidos irão cometer suicídio eventualmente. Depressão é uma doença e o preconceito só atrapalha a busca pela cura. Muitas vezes, por melhores que sejam as intenções dos amigos, só conversas de mesa de bar, desabafos regados a lágrimas e aquele ombro acolhedor, não são suficientes.

Esta semana, Robin Williams chegou ao limite. E você pensando como alguém com tanta fama, dinheiro e realizações poderia se matar, tendo tudo o que muita gente sonha nas mãos. Depressão não escolhe carreira, beleza ou status social. E Robin Willians jogou a toalha, fazendo a depressão vencer mais uma batalha.

É errado achar que o suicídio vai libertar alguém do sofrimento, fazer com que esta pessoa encontre, finalmente, a paz. Ao dar um fim na própria vida, o ator com cara de fofo e feliz mostrou que também era humano. A morte dele não é mais importante só porque todos o conhecem, não porque ele partiu, mas porque ele escolheu deixar o mundo.

Tem gente que acha suicídio um ato de coragem. “Como é que o sujeito teve colhão pra se jogar da ponte, atirar na própria cabeça, se enforcar, tomar uma dose potente de remédios ou se envenenar?”, você se pergunta. Outros acreditam ser o extremo da covardia; afinal, todos nós estamos na vida pra enfrentar problemas, resolvê-los, vencê-los, porque a vida não é fácil com ninguém.

Não consigo compreender tanta e absoluta rejeição a vida, a falta de capacidade de ver o valor em seja lá o que for a ponto de se perder toda a esperança. É uma escolha trágica, e isso deve ficar claro: suicídio, apesar de horrível e desesperador, é uma escolha. Ele não acontece com alguém, não te ataca como uma doença ou um furacão. Robin Williams era genial, mas ele não morreu de depressão, não é isso o que irá aparecer nos laudos da autópsia, porque depressão – sozinha – não mata ninguém, não te sufoca e nem faz seu coração parar. Por mais triste que seja, ele morreu pela escolha que fez. É uma escolha puxar o gatilho, se envenenar, pular da janela, desistir de vez.

Por mais triste que esteja, você não precisa escolher tirar a própria vida, como se ela fosse o presente de Deus (ou seja lá no que acredita) que você não gostou e quer devolver insatisfeito ao remetente em forma de protesto. Suicídio não acaba com o sofrimento, só o transfere pra quem fica por aqui, pro resto da vida deles. A vida existe e todos nós fomos feitos pra vive-la. Não desista da luta, porque esperança não se mata, ela é a última que morre. 

05 agosto 2014

Eu voltei...

Voltei a ler livros antes de dormir. Aliás, voltei a comprá-los também, pra depois passar a tarde com a cara no meio das novas aquisições numa Starbucks, tomando lattes demorados, sem ter que dar minha atenção pra alguém que reclama do gosto do café.

Voltei a me presentear com mimos bem femininos, porque cansei de esperar presente ou agrado de alguém. Voltei a frequentar restaurantes japoneses e a me entupir de peixe cru e arroz frio. Voltei a sair com as amigas, sem ter medo de ser abordada por estranhos e seus elogios. Voltei a me produzir pra passeios, porque já passei tempo demais em casa, de calça jeans e camiseta e, meus sapatos de salto alto agradeceram a decisão.

Voltei a assistir meus seriados preferidos sem legendas, não porque já os conheço de cor, mas porque as malditas letras no rodapé da TV me roubam o foco. Voltei a encher minha geladeira só com o que gosto. Voltei a confiar nas pessoas (certas) e a acreditar em promessas.

Desaposentei aplicativos de chat no meu celular. Voltei a fazer planos! Não posso me acomodar naquilo que tanto me incomoda. Não tenho esse direito...

Depois de agradar muito quem não merece, você chega a conclusão de que deve valorizar a única pessoa que estará do seu lado até o fim: você mesmo. Chega uma hora em que você percebe que fez tanto por alguém que a única coisa que resta fazer é parar, se distanciar e deixa-los partir. Dar lugar pra quem quer ficar. E nem sempre deixar de fazer algo por alguém significa que desistiu ou não tentou.

É preciso saber separar a determinação do desespero. O que é seu, de verdade, no final será seu. E o que não for, não importa o esforço que tenha feito ou continue fazendo, nunca será.

Chega uma hora em que você cansa de virar a página, porque percebe que a história não é a sua, que não faz mais parte dela. E nessa hora, o melhor é trocar o livro. Eu já sou outra (ou, talvez, a mesma de antes de você chegar) e, sendo outra, já não sou mais sua. Eu voltei a ser minha.