13 março 2013

A dor que mata

Não sei você, mas a morte de pessoas próximas, que conheço ou não, me fazem acordar pra vida. Já escrevi sobre isso algumas vezes, em todas elas quando a morte de alguém me colocou pra pensar e ver que ainda dá tempo (ainda que seja difícil determinar o quanto) de viver bastante.

A morte do Chorão, na semana passada, foi uma delas. Passo em frente do prédio em que ele morava e foi encontrado morto todos os dias pra vir trabalhar. Naquele dia, vi uma movimentação bem estranha. Quando abri a internet e vi do que se tratava, pensei de novo sobre a vida.

A passagem dele caiu dura. De todos os artistas que pensamos estar próximos da morte - como a Amy Winehouse naquela época - ele não chegava nem perto do topo da minha lista. Porque as pessoas morrem de overdose, sim. Artistas usam drogas, tem seus facilitadores, os "chegados", mais acesso a tudo isso, mas saber que o sofrimento e a solidão na vida dele foram a base de um vício é praticamente espetar a alma pra acordar de verdade e chegar à conclusão de que drogas matam, mas depressão acaba com a vida, pouco a pouco.

Chorão ensinou que as dores da alma são fatais. Elas correm atrás da gente, nos maltratam, mas não são inimigas. São sintomas, um alerta que precisa ser escutado. É tipo a luz do óleo do carro quando ascende: tem que prestar atenção pra não fuder o motor. Quando não damos ao sinal a importância que ele merece, eles nos engolem, sem dó.

Todo mundo tem suas dores e elas são sempre piores que as dos outros, porque são as que nos tocam, cortam e ferem. As dores dos outros podemos apenas imaginar como são, mas achamos que elas são sempre mais fáceis de resolver do que as nossas próprias. A verdade é que cada um alivia sua dor como pode e, nem sempre, da melhor forma, porque sobreviver é o que está em jogo

Dor é como água num cano furado: você pode estancar com toalha, chiclete ou com a mão, mas sabe que assim, uma hora, vai vazar. Ou a gente enxerga e tenta resolver ou a dor infiltra e procura outras direções. Há aqueles que dormem pra esquecer, há os que não conseguem dormir. Tem ainda os que falam do problema, mas tem também aqueles que se isolam. Uns buscam a cura da dor na meditação, mas tem gente que encontra na bebida, na droga ou em outros vícios a solução. Não importa qual, mas todos são pedidos de socorro.

A dor cega, deixa a gente louco, sem saber onde fica a saída. Chorão disse que nascemos e morremos sozinhos. E ele não estava errado, morreu exatamente assim: no meio da multidão, mas solitário. Poucos conseguiram entender, enxergar e ajudá-lo a tapar o vazamento. Mas muitos queriam estar ao lado dele pra aproveitar o que a vida dele - aparentemente - tinha de bom ao invés de perceber que algo alí não ia bem.

Como ele mesmo disse, em uma daquelas letras fodidamente boas, que foram compartilhadas todos os dias da semana passada, todos temos "nossas histórias, dias de luta e dias de glória".  O jeito é lembrar, nos dias de batalha, todos os prêmios conseguidos ao longo da vida e procurar neles algo que nos fortaleça pra continuar a caminhada.

O cara vai deixar saudade.

05 março 2013

Não custa nada

Quase todo mundo tem essa mania medíocre de associar a felicidade a algo material, geralmente, beeem caro: um carro importado, uma casa na praia, um guarda roupas de grife, uma cirurgia plástica pra acabar com aquilo que incomoda. Confesso que eu mesma, às vezes, me acho infeliz porque preciso passar meses juntando uma grana pra satisfazer um desejo material idiota.

Claro que a satisfação da conquista é sensacional. Mas limitar a felicidade às coisas que podemos comprar no shopping é pobre demais!

Já parou pra pensar naquilo que faz - ou poderia fazer - o seu dia bem melhor? Pra ser feliz, de verdade, é preciso muito pouco. Muito dinheiro, aliás, traz infelicidade e problemas, gente interesseira e frustrações. Nem sempre as pessoas mais ricas são as mais felizes do mundo. Talvez porque essa gente perde tempo demais tentando encontrar aquilo que fará delas muito fodas, diferente das outras, por ter aquilo que poucos ou ninguém tem.

Resumir a felicidade à um passeio pela praia, um dia da semana, uma cerveja com os amigos, um abraço de alguém especial, a um doce preferido não é pensar pequeno. É valorizar aquilo que a vida te deu de presente, muitas vezes, de graça.

Aquele papo de que dinheiro não traz felicidade, mas manda comprar é batido e discurso de gente infeliz. Ele pode até mandar comprar, mas a vida depois manda o carnê, com juros e sem prestações. Se você souber o que te faz feliz, fica bem mais fácil pagar a conta.